Mortágua comemora 25 de Abril e evoca Mortaguenses que lutaram contra a Ditadura
Tiveram início no passado dia 22 as comemorações do 25 de abril em Mortágua, organizadas em parceria pelo Município de Mortágua e Espaço Raízes e Memórias - Núcleo Museológico da Irmânia, e com o apoio da Comissão Nacional para as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Além do Presidente da Câmara Municipal, Ricardo Pardal, do Presidente da Assembleia Municipal, Acácio Fonseca, do Dr. João Paulo de Almeida e Sousa, tivemos a honrosa presença do Dr. João Faria, Comissário Executivo Adjunto para as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Uma conferência subordinada ao título “Tanto raio sobre a mesma cabeça não consta que tenha havido em Portugal - Tomás da Fonseca, um campeão dos livros censurados”, na qual foi orador convidado o Prof. Doutor Luís Filipe Torgal, marcou o arranque das atividades já inseridas nas comemorações do 50º aniversário do 25 de abril de 1974.
Entre outras obras, o Prof. Doutor Luís Filipe Torgal é autor da biografia “Tomás da Fonseca – Missionário do Povo”, que dá a conhecer as facetas literária, intelectual, politica e cívica do escritor mortaguense, que foi perseguido e preso pelo regime do Estado Novo.
Esta conferência foi intercalada com um interessante diálogo (Estado Novo versus Democracia”) e apontamentos poéticos, a cargo do Prof. José Machado Lopes e Noémia Machado Lopes, dois amigos e colaboradores assíduos nas atividades culturais levadas a cabo no nosso concelho.
O Presidente da Câmara Municipal, Ricardo Pardal, vincou a importância de se assinalar a data histórica do 25 de abril, sublinhando que a democracia é uma construção permanente e participada. “Mais do que uma simples data que se vai sucedendo no calendário ano após ano, aquilo que o 25 de abril representa não pode e não deve ser esquecido. Todos os nossos sonhos e objetivos, e tudo aquilo a que podemos aspirar, assenta no bem mais precioso que a Revolução de Abril nos proporcionou, o valor da Liberdade. É importante lembrarmo-nos disso e ajudarmos a concretizar estes ideais por dias livres e de esperança, com esforço, racionalidade e coração, mas lembrando-nos sempre que a liberdade não é um dado adquirido em si mesmo, é sim uma conquista que é preciso fomentar”, afirmou. E lembrou a ação de Mortágua e dos Mortaguenses na luta contra a ditadura do regime de Salazar: “muito do que diz respeito ao 25 de Abril e ao combate que o precedeu teve a participação e o envolvimento direto de Mortágua e dos seus ilustres representantes”, apontando a figura de Tomás da Fonseca, em destaque nesta conferência, como um dos maiores exemplos de coragem e resistência. De tal forma, que Mortágua ganhou o epíteto de “Vila mais republicana da Beira Alta”. Foi também Mortágua, recordou, o único concelho do distrito onde Humberto Delgado ganhou as eleições presidenciais em 1958.
“Saibamos honrar esse nosso legado repassando estes valores para as gerações futuras. Celebremos Abril, celebremos a Vida, celebramos a Democracia e a Liberdade. Honremos Mortágua e os Mortaguenses. 25 de Abril Sempre”, afirmou, a finalizar a sua intervenção.
O presidente da Assembleia Municipal, Acácio Fonseca, lembrou que o 25 de abril possibilitou que “os portugueses pudessem votar pela primeira vez em liberdade e escolher livremente os seus representantes”, destacando ainda o fim da Guerra Colonial e a melhoria das condições de vida dos portugueses como outras duas importantes conquistas do 25 de Abril. Referindo-se à sua área profissional, forneceu um indicador de comparação: “em 1970 havia em Portugal 94 médicos para 100 mil habitantes, hoje são mais de 600”.
O Comissário Executivo Adjunto das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, João Faria, falou do tempo em que viveu na clandestinidade antes do 25 de Abril, e referiu que nem sempre é fácil comunicar experiências passadas “até porque aquilo que foi conquistado passa a ser visto por muitos (sobretudo as novas gerações) como algo natural”. O que a experiência mostra, nomeadamente a experiência dos últimos anos, “é que tem vindo a surgir evoluções inquietantes em diversas partes do mundo, com os chamados regimes populistas, que normalmente não atacam os princípios democráticos mas tentam chegar ao poder no interior dos regimes democráticos explorando algumas bandeiras, nomeadamente a ideia do nacionalismo, mas que uma vez chegados ao poder operam transformações que são extremamente perigosas, por exemplo diminuindo a independência do poder judicial, a liberdade de Imprensa, atacando de forma mais furtiva os pontos-chave das democracias”, afirmou. Daí ser importante passar a mensagem aos jovens “de que a liberdade não é um dado adquirido, é um dado pelo qual tem de se lutar todos os dias”.
Após a conferência procedeu-se à inauguração da Exposição “A censura na obra literária de Tomás da Fonseca”. Esta Exposição documental retrata um conjunto de 17 livros escritos pelo autor mortaguense que foram censurados e proibidos de circular pelo regime do Estado Novo.
As comemorações prosseguiram depois na localidade da Marmeleira com a inauguração da Exposição “Da Beira Alta a Timor: o destino da coragem”, patente no Núcleo Museológico da Irmânia. Esta Exposição destaca outras duas figuras de Mortágua, os irmãos António Lopes Araújo e Serafim Lopes Pereira, e a sua deportação para Timor pela sua ação oposicionista à ditadura do Estado Novo. O outro irmão, Basílio Lopes Pereira, esteve preso no Tarrafal, para onde iam os chamados presos políticos.
Registou-se ainda um momento com música de intervenção, por Filipe Santos e Joana Pereira, onde não podiam faltar as canções emblemáticas da Revolução de Abril.
Hoje mesmo decorreu na Biblioteca Municipal Branquinho da Fonseca a atividade “25 de Abril de Mim para Ti”, com a participação e interação de alunos do Agrupamento de Escolas de Mortágua e alunos da Academia Saber+.
Promovida pela Rede de Bibliotecas de Mortágua, a atividade contou com um momento musical e a partilha de histórias, pelos academistas, acerca do 25 de abril.
Amanhã, dia 25, realiza-se o concerto comemorativo “Sons de Abril”, com início às 17h00, no Centro de Animação Cultural. O concerto contará com a atuação dos Paralelos do Ritmo, que convidam ainda vários artistas (cantores) de Mortágua para participar no espetáculo.
O programa comemorativo encerra no dia 29 de abril com a Conferência “A repressão no Estado Novo. Da vigilância e da censura à deportação”, tendo como conferencista convidado o Prof. Luís Reis Torgal. Terá lugar pelas 15h00, no Centro de Animação Cultural.