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Espinho
FREGUESIA DE ESPINHO:
Área: 41,3 km2
Total de população residente em 2021: 984 Habitantes
Localidades que constituem a freguesia:
Espinho, Quilho, Água Levada, Anceiro, Aveleira, Azival,
Ribeira, Painçal, Barracão (parte da localidade),
Castanheira, Pomares, Falgaroso da Serra, Santa Cristina,
Sobrosa, Soito, Truta de Cima, Truta de Baixo, Vale de Carneiro,
Vale de Vide, Vale de Mouro, Vila Boa e Vila Meã da Serra.
Orago: São Pedro
Locais de visita:
Igreja Matriz (Dr. Assis e Santos refere que o culto a S. Pedro mantém-se desde da difusão do cristianismo primitivo, séc. III e IV).
Lagar de Varas e Parque Temático de Vale de Mouro.
Casas de xisto, eiras e espigueiros da Truta de Baixo e Truta de Cima.
Ribeira de Monte Lobos, Santa Cristina e Vila Boa: os vestígios de velhos moinhos e os carvalhos que povoam as suas margens mostram a importância que estes engenhos tinham para o sustento das famílias.
Parque de Merendas de Quilho e o Parque de Espinho.
Confeção artesanal de tapeçaria – Vale de Mouro.
ESPINHO:
Espinho, sede de freguesia, localizada no extremo ocidental do município, cujo nome provém do termo latino spineu, que significa espinhoso, tem como términos as freguesias de Pala e União de Freguesias, a leste, as freguesias de Trezoi e União de Freguesias, a sul e o distrito vizinho de Aveiro a norte e a oeste.
A freguesia de Espinho segundo Dr. José Assis e Santos, estava sobre a jurisdição eclesiástica “Ao Bispo de Coimbra pertencia o domínio directo dos terrenos, o direito de aflorá-los, a autoridade plena, civil, religiosa e em certos casos até judiciária sobre os arrendatários; e bem assim o direito a uma renda anual de uma décima parte de colheitas.”[1] Primitivamente, a freguesia dependia do Mosteiro da Vacariça, mas em 1093 o Mosteiro foi extinto e os bens reverteram para a Sé Episcopal de Coimbra. A oralidade lembra que aos párocos consignavam-se certas pensões com o nome de débito e destinava-se-lhes os dextros ou passales de que ainda hoje se conserva a lembrança do Passal da igreja de Espinho. Trata-se de uma pequena cerca situada em redor do edifício religioso correspondente ao adro principal.
A tradição oral dá conta da existência de um juiz de paz, na freguesia de Espinho, cuja tarefa era lavrar autos de conciliação entre os moradores.
A freguesia de Espinho também foi marcada pela 3ª Invasão Francesa, na freguesia passava uma via romana, a estrada de Aveiro ou estrada dos Almocreves que fazia a ligação com o Porto. Dizem relatos orais que o exército francês enfrentou imensos obstáculos na tentativa de alcançar a planície, as barreiras em rocha viva na descida de Cadima dificultaram a passagem da artilharia, que teve que desmontar uma das peças. Os pedaços de madeira ali deixados, foram reaproveitados pelo reitor para fazer um novo esquife que transportava os corpos dos pobres para o cemitério, visto estar velho e a precisar ser substituído. Outro episódio terá ocorrido em Falgaroso da Serra, segundo conta a história, “que aquando a passagem das tropas, os habitantes desta aldeia, ao tempo, bem provida de pias de azeite, adegas, celeiros e salgadeiras, não fugiram. Venderam parte dos seus gados ao exército, esconderam tudo o que puderam pela ribeira fora e lá andaram nas suas lides campestres. Os donos dos haveres abriram valas e poços nas várzeas, enterraram arcas de cereais, os potes de mel, pias de azeite…e lavraram as terras para indicar sementeira recente. Seguidamente carregaram os seus haveres e esconderam-se na floresta. Perdeu-se deles um boi que não conseguiram controlar. Foi abatido e comido pelos franceses de imediato. Para o assar, os soldados acenderam uma grande fogueira, na eira do maioral da terra, o José Roque. Para se sentarem invadiram a casa anexo onde o dito lavrador tinha guardada a cera dos seus apiários, transformada em bolos. Foram mesmo esses bolos, que serviram de assentos colocados ao redor da fogueira. Está bom de ver o que aconteceu a seguir: com o calor que vinha do braseiro os blocos amoleceram e pegaram-se às fardas. Ao darem pelo desastre, fizeram tamanho alarido que se ouvia muito bem do lado das moitas que permaneciam silenciosas. Quando deram conta que o último francês passara já o Monte Agudo a caminho do Boialvo, recolheram os gados e cada um regressou ao seu casal. No dia seguinte desenterraram os seus haveres intactos. Ainda por largo tempo se põde observar o negro do fogo na eira…”[2]. Seguindo o Caminho dos Almocreves encontramos Aveleira, diz a tradição que a capela desta aldeia, que venera o Santo Amaro, foi poupada pelas tropas francesas pelo facto de Santo Amaro ser santo francês. Tomás da Fonseca refere, ainda que o Santo Amaro “…foi muito rico. Não consta mesmo que outro santo, dos que reza a folhinha, herdasse tantos bens de raíz (…) O doador era o morgado mais rico destas redondezas. Mas desgraçou-se com um tiro que deu num moço da Bairrada que primeiro pretendera a mulher (…) Julgando que, apesar disso, poderia salvar-se, resolveu doar tudo o que tinha ao Santo Amaro e ir fazer penitência numa cabana onde viveu até morrer (…) A primeira coisa que os administradores fizeram (…) foi tornar o santo independente da paróquia, formando assim uma nova freguesia com as cinco povoações mais próximas, tendo como orago o nosso Santo Amaro.”[3]
No século XIX a freguesia sofre grandes transformações com a construção do caminho-de-ferro em 1800, a Linha da Beira Alta permitiu retirar do isolamento algumas aldeias do concelho.
Nesta freguesia encontramos localidades tipicamente rurais, as aldeias de Truta de Baixo e Truta de Cima são o puro exemplo da tipicidade da traça arquitetónica das construções de xisto do nosso concelho. São muitos os vestígios das tarefas agrícolas que ainda se fazem sentir nas aldeias da freguesia, como o denunciam a presença das eiras e dos espigueiros repletos aguardar a malha. Os vestígios dos moinhos de rodizio existentes nas margens das ribeiras são o exemplo vivo de modos de vida passados que merecem ser respeitados e preservados.
[1]In O Pelourinho de Mortágua; José Assis e Santos; pág. 146; 1969
[2] In Contributos para a Monografia de Mortágua; Câmara Municipal de Mortágua; págs. 76 e 77; 2001
[3] In Agiológio Rústico – Santos da Minha Terra; Tomás da Fonseca; capítulo VIII - Santo Amaro, O Imprevidente; págs.201 a 20.3