Município homenageou antigos e atuais Autarcas na Sessão Solene Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril
O Município assinalou os 50 anos do 25 de Abril com uma Sessão Solene Comemorativa que teve lugar, neste dia de grande simbolismo histórico.
A cerimónia, realizada na Praça do Município, iniciou com o Hastear da Bandeira Nacional e a entoação do Hino Nacional com acompanhamento da Filarmónica de Mortágua, do Coral Juvenil Sílvia Marques e do público ali presente.
Seguiu-se a homenagem aos antigos e atuais autarcas da Câmara Municipal, Assembleia Municipal e Juntas de Freguesia, nas suas pessoas ou representantes (alguns autarcas já não estão entre nós). Desta forma, prestou-se público agradecimento e reconhecimento ao trabalho, dedicação, empenho e espírito de missão dos autarcas do concelho ao longo destes 50 anos, contribuindo para o progresso, a coesão social e o bem comum.
A cerimónia registou intervenções do Presidente da Assembleia Municipal, Acácio Fonseca, do Presidente da Câmara Municipal, Ricardo Pardal, e do Dr. João Paulo Almeida e Sousa, orador convidado da Sessão.
Na sua intervenção, o Presidente da Assembleia Municipal lembrou “a valentia e a coragem dos Capitães de Abril”, relevando a figura e o caráter de Salgueiro Maia. Referiu que é preciso lembrar hoje “para memória futura e para os nossos jovens” como viviam os portugueses antes do 25 de Abril. Recordou o atraso do país em vários indicadores, particularmente no mundo rural, nas aldeias, “sem vias de comunicação asfaltadas, sem água potável ao domicílio, sem energia elétrica, sem saneamento básico e apenas ¼ das casas tinham sanitários”. O analfabetismo era gritante, só os filhos das famílias abastadas podiam aceder ao Ensino Superior, “a mortalidade infantil era de 44 por mil nados vivos e hoje é inferior a 2 por mil”. Não havia eleições livres, as mulheres não tinham direto a voto, e quem se manifestasse contra o regime era preso, torturado e enviado para o Aljube ou Tarrafal. Tudo era controlado pela Censura, com o seu famoso lápis azul. A miséria no mundo rural levou muitos portugueses a emigrar, para França, Alemanha, Bélgica, Suíça, “para fugir à fome e à miséria”.
Perante os desafios do futuro, afirmou que é necessário continuar a aperfeiçoar e a cumprir o espírito de Abril de 74, e lutar contra a proliferação de ideias xenófobas, retrógradas e fascizantes, por parte dos saudosistas do passado. “É dever de todos os democratas condenar estas ideias e evitar o retrocesso civilizacional. É necessário manter a chama de Abril bem viva e nunca deixar murchar os cravos”, vincou.
Na sua intervenção, o Presidente da Câmara Municipal, referiu que celebrar o dia 25 de Abril é celebrar um momento da história que trouxe a Liberdade ao povo português, e celebrar os Capitães de Abril, obreiros da Liberdade.
“0 25 de Abril mudou, para sempre, o rumo do país e influenciou o nosso quotidiano, que se traduziu em liberdade, democracia, progresso económico, educacional, social e cultural, melhores condições de vida dos portugueses”, lembrou.
Passados 50 anos do 25 de abril, disse, é necessário “manter viva a chama da liberdade e da democracia, honrar os valores conquistados”, “e passar a mensagem às gerações vindouras, para que possa ser mantida e renovada no futuro dos nossos jovens”.
O Poder Local e os Autarcas tiveram e continuam a ter um papel relevante neste processo de consolidação democrática e progresso, enfatizou. “Valorizar as conquistas de Abril faz-se através do nosso empenho e trabalho em construir um concelho cada vez mais desenvolvido, uma sociedade justa e com melhores oportunidades para todos”.
No entanto, nos dias de hoje os valores de Abril enfrentam desafios, agravados pela incerteza global, as guerras, a crise económica e social, que devemos superar: “O presente obriga-nos a voltar a Abril e aí, encontrar inspiração para enfrentar as dificuldades do nosso tempo, lutando, hoje como há 50 anos, contra os extremismos, fascismos e populismos”.
“Cabe-nos honrar a tradição deste concelho humanista, solidário e pacifista, para sabermos integrar todos, na certeza, porém, que fazem parte de uma Mortágua acolhedora, multicultural, empreendedora, habituada a estabelecer pontes e relações estreitas com todos”, afirmou.
E deixou a mensagem de que é preciso continuar a construir Abril: “Saibamos, todos juntos, continuar a erguer esforços e ações para afirmar a liberdade e manter viva a democracia”.
O Dr. João Paulo Almeida e Sousa, na qualidade de orador convidado, referiu que “falar do 25 de abril em Mortágua é também lembrar que este concelho é um exemplo onde as sementes da Liberdade e da Democracia não se perderam depois do 28 de maio de 1926”.
E evocou os nomes de mortaguenses que lutaram pela liberdade contra a Ditadura, como Tomás da Fonseca, os irmãos Lopes Pereira, Lopes de Oliveira, José Nunes Cordeiro, Deodato Ramos, Urbano Duarte, Augusto Lobo, Manuel Afonso, António Gonçalves, Victor Hugo Miragaia, Fernanda tomas, Fernando Gouveia, Albano lobo, entre outros, lembrando que “alguns de entre eles conheceram os tenebrosos interrogatórios da PIDE, as prisões e mesmo a deportação”.
Referiu que a melhor homenagem ao 25 de Abril e à sua memória é comparar o que era Portugal antes e depois do 25 de Abril. “Quem viveu antes do 25 de Abril, pode confirmar as diferenças de norte a sul do país e as mudanças operadas. E Mortágua não é exceção neste esforço de devolver aos cidadãos os direitos, os benefícios, e a qualidade de vida a que têm direito, dentro de princípios de desenvolvimento sustentado”.
Frisou que o edifício da democracia nunca está acabado e que o seu aperfeiçoamento deve ser um contínuo de monitorização e de preservação da sua essência, com base na Constituição da República Portuguesa e na participação dos cidadãos, das associações cívicas e partidos”. E fez notar que só a democracia permite aos seus detratores ou inimigos se poderem manifestar contra ela. “Nos regimes autoritários nada há a reclamar nem por fazer porque a livre expressão, a oposição politica, a contestação ou a crítica mesmo que construtiva, são reprimidas”.
Aos três D da Revolução (Democratizar, Descolonizar, Desenvolver), disse, é necessário acrescentar hoje outro D: o D de defesa (da democracia).
As intervenções foram intercaladas com a leitura de poemas alusivos ao 25 de abril e a interpretação do tema "E Depois do Adeus", canção de Paulo de Carvalho que serviu de senha para a saída dos militares dos quartéis em direção à capital e arranque da Revolução.
Após a cerimónia, a Filarmónica de Mortágua seguiu em arruada, juntamente com as pessoas, até ao Centro de Animação Cultural, onde foi inaugurada a exposição "De Norton de Matos a Humberto Delgado, as Eleições Presidenciais em Mortágua".
As comemorações continuaram à tarde com a apresentação da peça "O regresso do soldado", na aldeia de Vila Nova.