Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Mortágua
Espetáculo “Aerograma Liberdade – Uma Carta Concerto”
O Centro de Animação Cultural recebeu ontem à noite o espetáculo “Aerograma Liberdade”, inserido nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Mortágua. O programa das comemorações, promovido pelo Município, irá decorrer ao longo do ano, embora com especial enfoque no mês de abril, prevendo a realização de espetáculos de música, teatro, exposições.
No dia em que se assinalou o Dia Mundial do Teatro, foi lida uma mensagem escrita por Jon Fosse, escritor norueguês e Prémio Nobel da Literatura de 2023, que fala da arte, da tolerância e da paz. “Não conheço melhor forma de juntar os opostos. É a abordagem exatamente oposta de todos os conflitos violentos que vemos no mundo com demasiada frequência, a mesma que indulta a tentação destrutiva de aniquilar tudo o que é estrangeiro, tudo o que é único e diferente. A guerra e a arte são opostas, tal como a guerra e a paz são opostas – é tão simples quanto isto. Arte é paz”. Ao combinar o que é único com o que é universal, a arte “atravessa as barreiras entre línguas religiões e países”, sustenta o autor.
Antes do início do espetáculo, o Presidente da Câmara Municipal, Ricardo Pardal, agradeceu a presença do grupo e do público, e lembrou a importância de se continuar a celebrar o 25 de abril, afirmando que “a liberdade e a democracia são uma construção coletiva” e que é preciso lutar para que não haja um retrocesso dos direitos e das liberdades tão arduamente alcançadas.
Os aerogramas, alcunhados de “bate-estradas”, eram um dos meios de correspondência mais utilizados entre os militares e as famílias durante a Guerra Colonial, sendo transportados e fornecidos gratuitamente aos militares e às suas famílias. Estima-se que tenham sido impressos mais de 300 milhões. Normalmente esses aerogramas terminavam com a frase “Até ao meu regresso”. Infelizmente muitos soldados não voltaram, de uma guerra distante, desumana e incompreendida.
No espetáculo há um último aerograma que uma filha escreve para o pai que está na guerra, a anunciar que houve uma revolução dos militares em Portugal, que a guerra vai acabar e vai poder voltar a casa.
O espetáculo “Aerograma Liberdade” é construído com música, a leitura de aerogramas ficcionados e a projeção de imagens ilustradas para dar a conhecer a história de uma família que é também a história do Portugal da década de 60/70 até ao 25 de Abril de 1974. Os textos são de Ricardo Correia e as ilustrações de Cátia Vidinhas.
Em palco estiveram Catarina Moura (Voz), Luís Pedro Madeira (Viola e Guitarra), Quiné Teles (Percussões), Ricardo Grácio (Cordofones, Flauta transversal, Viola). O repertório incluiu temas dos cantautores Zeca Afonso, José Mário Branco, Fausto, temas do cancioneiro tradicional e popular português, bem como um tema em crioulo. Os músicos utilizam instrumentos tradicionais de várias regiões do país (a viola beiroa, a viola campaniça, o adufe, entre outros), bem como instrumentos musicais típicos das ex-colónias, como o Balafon (Guiné), a Kalimba (originária de países africanos).
O público teve o privilégio de assitir a um maravilhoso concerto e serão cultural que prestou homenagem ao 25 de abril, e trouxe à memória uma das conquistas do 25 de abril, o fim da Guerra Colonial e da angústia que atingiu milhares de familias perante a incerteza do regresso dos seus filhos.
Da autoria de Catarina Moura, Luís Pedro Madeira e Ricardo Correia, este espetáculo estreou o ano passado, encomendado inicialmente pelo Município de Loulé para as comemorações do 25 de Abril de 2023, numa coprodução do Cineteatro Louletano e do Teatro da Cerca de São Bernardo – Escola da Noite.