 “O Pecado de João Agonia”, de Bernardo Santareno
Com uma sala completamente esgotada, o TEM - Teatro Experimental de Mortágua estreou no passado dia 21 a sua 51ª produção teatral. A peça escolhida foi “O Pecado de João Agonia”, uma adaptação do drama escrito por Bernardo Santareno. A história passa-se nos anos 60, numa aldeia serrana de Portugal e tem como tema central a homossexualidade, um tema que está na ordem do dia na sociedade portuguesa, discutindo-se a possibilidade de legalizar os casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Como em muitas obras de Bernardo Santareno, na peça “O Pecado de João Agonia” são os valores tradicionais que estão em causa, os costumes, o confronto entre o meio urbano e o meio rural, entre o bem e o mal.
Em palco estiveram onze actores, entre actores já experientes, como Toni Nobre, São Garcia, Zé Carlos, Céu Melo, Anabela Jorge, Hugo Melo, João Carlos, e outros que estão a dar os primeiros passos na arte da representação, casos de Neide Simões, Mónica Pereira (estreia absoluta), Luís Coelho e Simão Silva.
Neide Simões, 19 anos, foi uma das estreantes: “Estava muito nervosa, mais antes da peça começar, depois as coisas fluem e os nervos vão desaparecendo”. Começou a fazer teatro na Escola Secundária e ganhou o prémio de Melhor Actriz do Concurso Inter-Escolas das “Escolíadas”. “Desde pequena que eu tive sempre este bichinho do palco, mas foi através desta experiência na Escola que realmente ganhei a paixão pelo teatro”, confessa.
O encenador Ramos Costa estava feliz com o nível artístico exibido e com os actores, dizendo: “o TEM reúne hoje o melhor dos elencos que conheço no País a nível do teatro associativo”. Afirmando ainda: “o TEM tem uma mística, é uma referência, onde o TEM vai as pessoas vão ver, porque garantidamente será um bom espectáculo. Muitas vezes não é por causa da peça em si, mas porque é o TEM, sabem que o TEM é portador de peças que no seu género agradam sempre e são feitas com muita seriedade e sentido de responsabilidade”.
Apesar de ter sido publicada há quase 50 anos, a peça aborda um tema bastante actual. “Nesta peça temos um fim trágico, um derrame de sangue, mas não é preciso que assim aconteça para vermos como a sociedade actual, pelo menos a maioria, ainda condena e olha de forma crítica para as diferenças, sejam elas de ordem religiosa, sexual ou outras.
Estas pessoas são discriminadas, vivem escondidas, isoladas, não são capazes de viver no seu mundo de afectos, o que é horrendo, e constitui um crime tão grande como o derrame de sangue”, diz Ramos Costa.
Apesar do tema ser ainda de certo modo tabu na sociedade portuguesa, reconhece que tem havido uma evolução positiva em Portugal: “as mudanças de mentalidade levam tempo, mas acredito que daqui a alguns anos teremos uma sociedade mais tolerante, mais aberta, em que as pessoas se olham umas para as outras como pessoas e não por terem esta ou aquela opção”.
No final da peça, com uma duração de hora e meia, todos os actores e colaboradores se perfilaram no palco, recebendo uma enorme ovação de pé do público, agradado com a peça mas sobretudo com os actores, que mostraram uma grande postura e muito talento.
O teatro em Mortágua está bem vivo e tem um futuro promissor, a ver por estes jovens actores.
Correia Pinto, em nome do TEM, agradeceu a presença do público e realçou o trabalho de equipa que está por detrás da peça, que vai para além dos actores, numa referência aos colaboradores.
Também o Presidente da Câmara, presença habitual nas estreias do TEM, dirigiu algumas palavras, tendo destacado a qualidade artística da representação e a quantidade de jovens em palco e na plateia, sinónimo de que os jovens apreciam a cultura e o teatro em especial.
Agora a peça vai iniciar a sua itinerância pelo País, estando já marcadas duas saídas nas próximas semanas (Oliveira de Azeméis e Pinhel). Além disso, a peça vai também ser apresentada em vários locais do concelho de Mortágua.
A nova produção do TEM teve o apoio do Município de Mortágua, Junta de Freguesia de Mortágua, Governo Civil de Viseu, Fundação INATEL (Viseu) e Tria, Ldª.
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