 Realizou-se no passado dia 26 a 5ª edição do Passeio Literário “No trilho de Tomás da Fonseca”, promovido pelo Município de Mortágua. Com esta iniciativa pretende-se divulgar e perdurar a obra literária de Tomás da Fonseca, e homenagear o Homem, o Cidadão, o Pedagogo, o Político, que lutou pela Liberdade, pela Justiça e pela Educação para todos, preocupando-se sobretudo com as camadas mais pobres da população. O passeio que juntou cerca de 100 participantes, do concelho e de vários pontos do país (Viseu, Coimbra, Anadia, Mealhada, Aveiro, Carcavelos, Vila do Conde, entre outros), teve início no Jardim-Escola João de Deus (concentração e pequeno almoço), uma vez que Tomás da Fonseca esteve ligado à edificação deste espaço educativo, do qual foi mentor e grande obreiro o Dr. Aníbal Dias, que não sendo natural de Mortágua, aqui viveu e adotou esta terra como sua. Um dos locais de paragem, pelo seu simbolismo, teve lugar junto ao busto de Tomás da Fonseca, situado na Praça do Município. Ao longo do percurso (Praça do Município, passadiços, Barril, Coval, Cabeço do Senhor do Mundo), foram apresentados excertos da obra de Tomás da Fonseca “Memórias do Cárcere”, publicada em 1919, e encenados por atores do Teatro Experimental de Mortágua. Nesse livro Tomás da Fonseca descreve a sua passagem pela penitenciária de Coimbra, onde esteve preso, juntamente com outros mortaguenses (11 ao todo), por motivos políticos, mais concretamente a sua oposição ao regime de Sidónio Pais. Foi um período muito difícil na vida de Tomás da Fonseca, seguiu-se após ser demitido das suas funções e ter visto reduzido o seu vencimento para metade, e com a gripe pneumónica ou gripe espanhola a atingir a sua família. Além da descrição das razões da sua prisão e das peripécias que viveu durante o cárcere, o livro contem também informações relevantes sobre o contexto social, económico e politico à época, nomeadamente as referências à 1ª Guerra Mundial, à epidemia e às dificuldades sentidas pelo povo em geral. Tomás da Fonseca faz um paralelismo ao que lhe aconteceu e aos seus companheiros à famosa lenda do Juiz de Fora, denunciando os poderosos e influentes que terão conjurado a sua prisão. Estas quadras escritas para repor a verdade histórica são elucidativas: “Lá nas terras de Mortágua; Só acredita quem viu; Um urso, armado em fadista; Deu a facada e fugiu”. “Para culpar o inocente; Qualquer código vigora; Inda há presos na cadeia; Por causa do Juiz de Fora”. Foram ainda lidos poemas do escritor Branquinho da Fonseca, filho de Tomás da Fonseca, e tambem ele um notável escritor, ensaísta e novelista. No Cabeço do Senhor do Mundo foi servido o almoço, de sabores tradicionais, confecionado por elementos do Rancho Folclórico “Os Camponeses do Freixo”. Cada participante recebeu um saco alusivo ao Passeio Literário e uma coleção de textos elaborados por alunos do Agrupamento de Escolas no âmbito da Oficina de Escrita Criativa. Os participantes mostraram-se agradados com o Passeio, que proporcionou um dia repleto de cultura e boas surpresas, sendo de destacar o significativo número de visitantes de fora do concelho que marcaram presença no evento. |