 O espetáculo musical "Acordes d`Abril" assinalou, em Mortágua, a celebração dos 48 anos do 25 de abril, data histórica que marcou a nossa vida coletiva, trazendo a liberdade sonhada. A música de intervenção teve um papel muito relevante na resistência e luta contra a censura e a canção “E Depois do Adeus”, interpretada por Paulo Carvalho, serviu de senha para desencadear a Revolução e a queda da ditadura fascista. O espetáculo, promovido pela Câmara Municipal, foi feito com a prata da casa, contando com a atuação do grupo “Paralelos do Ritmo” e da Banda “Cordas Partidas”. Foi muito agradável ver duas gerações em palco, uma mais adulta e outra mais jovem, a partilharem, através da música, os ideais e as conquistas de Abril. O palco e o Auditório estiveram decorados a preceito, com enormes cravos espalhados pela sala. Antes do início do espetáculo, o presidente da Câmara Municipal, Ricardo Pardal, dirigiu algumas palavras ao público, agradecendo a sua presença, bem como aos dois Grupos Musicais, que aceitaram o convite dirigido pelo Município. O presidente da Câmara referiu que a música e a canção foram uma arma do 25 de Abril. “O que somos hoje, o que podemos fazer hoje, deve-se à liberdade conquistada nesse dia de Abril. Devemos lembrar-nos disso todos os dias, que a liberdade e a democracia foram conquistadas nessa altura, e devemos lutar diariamente para que as conquistas do 25 de Abril permaneçam nas atuais e futuras gerações. E terminou com palavras que são elas próprias um ícone da Revolução:”25 de Abril sempre, Viva a Liberdade”. Seguiu-se o espetáculo, com a primeira atuação a cargo dos “Paralelos do Ritmo”, grupo formado por Celso Portugal, Carlos Fonseca, Luís Fonseca, Miguel Dias, Óscar Seabra e Altino Reis. O Grupo preparou para este espetáculo um repertório especial, ligado à chamada música de intervenção, que incluiu temas de Zeca Afonso, como “Canção de Embalar”, “Os Vampiros”, “Filhos da Madrugada”, “Menino do Bairro Negro”, entre outros. Do alinhamento fizeram ainda parte “Trova do Vento que Passa”, de Adriano Correia de Oliveira, “Tinta Verde”, de Vitorino, e dois temas angolanos: “Amanhã”, do Duo Ouro Negro” e “Valódia”, do cantor Santocas (símbolo da canção angolana de intervenção). No final, o Grupo cantou à capella a “Grândola, Vila Morena”, a que o público se associou, cantando de pé um dos temas mais emblemáticos da Revolução de Abril. Celso Portugal, um dos elementos do Grupo, lembrou que as letras destas músicas recordam a realidade de um país que estava adormecido, amordaçado, um povo mergulhado na pobreza, nas desigualdades e na Guerra Colonial, e que finalmente naquela “madrugada mais linda” acordou e conheceu um país novo, onde se podia respirar e sentir o elixir da liberdade. Depois subiu ao palco a Banda “Cordas Partidas”, formada por Sílvia Santos (voz), Luís Rodrigues (teclas), Tiago Rodrigues (guitarra solo), Luís Cardoso (guitarra ritmo), Miguel Santos (baixo) e João Oliveira (bateria). O Grupo interpretou novos temas do seu repertório, covers de música portuguesa e estrangeira, ligeira e rock, mas no seu estilo muito próprio e irreverente. Do repertório fez parte o tema “O que faz falta” de Zeca Afonso, que animou toda a plateia. “É um tema que já faz parte do nosso repertório e que nós quisemos incluir no espetáculo de hoje, pelo simbolismo do dia que estamos a comemorar”, explicou Sílvia Santos. Foram duas horas e meia de espetáculo, mas pela reação do público, podia durar a noite toda. Espetáculo empolgante, vivido com calor humano, fraternidade e emoção. Celebrou-se a Liberdade e homenagearam-se os cantores e as canções de Abril. Além deste espetáculo, a comemoração da data ficou ainda assinalada com a iniciativa “A Poesia está na rua”, promovida pela Biblioteca Municipal. Os edifícios das Juntas de Freguesia (incluindo das extintas Juntas) ostentaram faixas com poemas alusivos à Revolução de Abril, de autores como Sophia de Mello Breyner, Manuel Alegre, Amadeu Carvalho Homem, José Fanha, José Jorge Letria. |