 A arte urbana chegou também a Mortágua. Uma pintura mural que retrata a célebre “Batalha do Bussaco” passou a ilustrar um talude na entrada nascente de Vale de Açores, no final do viaduto. A obra é da autoria de Odeith (nome artístico), um renomado e multipremiado artista a nível nacional e internacional, com obras realizadas em todo o Mundo. Natural da Damaia (Amadora), Sérgio Odeith fez um percurso de evolução no grafiti, aprendeu, desenvolveu e criou um estilo próprio, sendo hoje considerado um dos melhores artistas do mundo na arte dos graffiti. Em Portugal é autor de inúmeras obras, algumas das quais retratam figuras de relevo nacional, como Fernando Pessoa, Amália Rodrigues, Eusébio, Vasco Santana, Carlos Paredes, Zeca Afonso, Nicolau Breyner, entre outras. Entre as figuras de dimensão mundial que já retratou pode-se enumerar o cantor Louis Armstrong, o ativista Martin Luther King, o pugilista Muhammad Ali. No estrangeiro, podemos encontrar obras da sua autoria em lugares como Austrália, Estados Unidos, Europa, Dubai, Israel, América do Sul. “Já fiz tantas obras que já não me lembro de todos os lugares onde se encontram”, conta. Los Angeles, Charleston, Lexington, Louisiana, Kentucky, Carolina do Sul, são alguns dos locais nos Estados Unidos onde já deixou a sua marca. No seu currículo contam-se também obras executadas para grandes marcas comerciais, como Coca-Cola, Samsung, Shell, Microsoft. Para o canal História recriou a visão apocalíptica do “Fim do Mundo”.
Muitas das suas obras recorrem à técnica da ilusão ótica, à dimensão tridimensional, um trabalho a que é dado o nome de arte “anamórfica” ou anamorfose. Uma técnica que combina ângulos, linhas e sombras para dar o efeito extraordinário do híper-realismo, a impressão das imagens estarem em movimento ou a saltarem das paredes. Segundo o artista, a arte urbana veio para ficar. “É uma coisa que com o tempo se foi tornando popular, há 20 anos atrás era impensável alguém ser convidado para pintar uma parede de um edifício, um comboio. Os artistas começaram também a construir um tipo de arte mais elaborado, mais criativo”. Durante a execução do trabalho, que durou uma semana, o artista teve oportunidade de ver a reação do público. “As pessoas quando aqui passavam faziam gestos de aprovação, paravam para ver, tiravam fotos. Esse reconhecimento é o mais importante para o artista”, diz. O desafio lançado ao artista pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Mortágua (CPCJ) teve um objetivo pedagógico, o de sensibilizar os jovens para o que é verdadeiramente arte urbana ou “street art” e mostrar que por detrás dela existe técnica, estudo, mensagem e enquadramento na paisagem envolvente. Quando assim não acontece, estamos perante mera poluição visual e ambiental. Sendo feitas em edifícios públicos, sem autorização, traduzem-se ainda num ato de puro vandalismo, configurando um crime público punido por lei. Enquanto a arte urbana valoriza o espaço público, os autores de “rabiscos” e “pixagens” limitam-se a sujar paredes, a causar danos no património, sendo necessário esclarecer que nada disso é arte. No mural agora executado, além do trabalho artístico e criativo, há que mencionar os elementos simbólico e cultural, associados à representação de uma parte importante do passado e da memória coletiva dos Mortaguenses (a passagem das Invasões Napoleónicas no concelho). .JPG)
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