 Está patente no Centro de Animação Cultural de Mortágua uma exposição temática evocativa da figura de Francisco António Ciera (1763 – 1814), pioneiro da telegrafia portuguesa e grande impulsionador da cartografia do território nacional. Entre outros contributos, Francisco Ciera destacou-se pela reforma e inovação nas comunicações militares ao propor um sistema de telégrafo simplificado e inovador que foi de grande utilidade no período das Invasões Francesas (3ª Invasão). A exposição, cedida pelo Exército, apresenta algumas réplicas dos equipamentos criados por Ciera, à escala real, além de painéis infográficos que ajudam a perceber os contributos decisivos que Ciera deu quer para a evolução da telegrafia quer da cartografia em Portugal. Sob a sua direcção, estas duas áreas tiveram um forte impulso. Ciera foi um cientista multifacetado, matemático, astrónomo e cartógrafo. Foi lente de Astronomia da antiga Academia Real da Marinha e membro fundador da Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica para o Desenho, Gravura e Impressão das Cartas Hidrográficas, Geográficas e Militares, e responsável pelos estudos preparatórios para a elaboração da primeira Carta Geral do Reino e pela introdução da telegrafia visual terrestre em Portugal. Foi o último cosmógrafo-mor do Reino de Portugal. Numa altura em que se temia em Portugal mais uma invasão francesa, uma das suas incumbências foi organizar e implantar uma rede nacional de telegrafia visual. Ciera não só o fez como também inventou três tipos de telégrafo ótico mais simples, mais baratos e mais fáceis de operar que todos os outros existentes no mundo por essa época. O seu trabalho viria por isso a revelar-se decisivo para as Linhas de Torres. O sistema de comunicações militares usados na época divida-se entre os telégrafos “de ponteiro” (1805?), “de 3 persianas” (1809) e “de 3 balões” (1810). Pelo meio havia o sistema português desenvolvido por Ciera que apresentava múltiplas vantagens em comparação com os seus congéneres. Ciera teve conhecimento destes equipamentos e, em breve, procedeu a inovações nos telégrafos de palhetas, também ditos telégrafos de postigos ou de persianas. Estes modelos de telégrafo não-elétricos foram os mais utilizados em Portugal. Dos telégrafos atribuídos a Ciera, dois foram por si inovados com sucesso e um terceiro (o telégrafo de ponteiro e mostrador) foi mesmo sua invenção. Dos três telégrafos relevamos o de palhetas, baseado no modelo sueco e que Ciera modificou de modo a torná-lo mais leve, simples de utilizar e com mais possibilidades de transmissão da informação. Simultaneamente inventou o novo código - "taboas telegraphicas" baseado apenas em 8 sinais: números 1 a 6, mais o ponto e o sinal de igual; ao passo que o modelo inglês implicava 64 sinais, o francês 256 e o sueco 1024; logo, menos práticos. Além da facilidade de transmitir e da diminuição do volume e peso do seu telégrafo, o equipamento de Ciera permitia praticamente a transmissão de informação até ao infinito, apenas com a combinação dos referidos 8 sinais. O próprio Duque de Wellington ficou impressionado com as virtudes do sistema e incentivou a adoção dos telégrafos portugueses de Ciera. A exposição integra o programa das comemorações dos 205 anos da Batalha do Bussaco, que estão a ser organizadas em parceria pelos Municípios da Mealhada, Mortágua e Penacova, e Fundação Mata do Bussaco. O programa das comemorações inclui passeios noturnos encenados, exposições, concertos, conferências, e encerra no dia 27 de setembro com a realização das habituais cerimónias militares e protocolares do Exército Português e uma recriação histórica da batalha, que ocorreu precisamente neste dia e mês de 1810. Exposição: “Francisco António Ciera”, até 27 de setembro, no Centro de Animação CulturalHorário normal: seg. a sexta das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 17h30 sábado das 10h30 às 13h00 Horário extra: aos fins de semana, durante o horário de funcionamento do Cinema |